segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Memorias de um Tuchuk I


- Está maluco, Yanko!!! Se te pegam ai dentro, não vai sobrar sequer um dente teu na boca!!

Eu ouvia as palavras de Igor, enquanto vestia o manto que me protegeria dos olhares curiosos por trás daquelas muradas.

- Se você continuar gritando como uma Livre assim, não vai mesmo!! Shhh Igor!! Não precisava ter vindo.. agora ao menos vigie a estrada.

São poucas as coisas de que me lembro ter passado desde que a vi.. Desde então soubera que ela era uma livre.. filha de um comerciante poderoso de Turia. Um homem que havia morrido num ataque da minha gente. Uma retaliação pelo ataque de outros tempos. Somos assim. Olho por olho, dente por dente... Havia se passado 1 ano desde o dia do lago. Ficava sempre pelas voltas da murada escondido. Agora, havia decidido que ia entrar.. Ia vê-la novamente, custasse o que custasse. Retirei o gancho que trazia na cintura, preso a corda e me preparava para lançar.

- Pare com isso Yanko!!! Já possui Saphir. É uma boa escrava Muitos do camp a queriam e você a ganhou.

- Eu a quero, Igor.. quando vai entender!? Você tem Kalandra.. tem a promessa de se tornar FC dela, eu quero ela.. – apontava para a murada.

Igor, meu primo, sabia que não conseguiria arrancar da minha cabeça a idéia de ter a turiana. Era como se eu estivesse tomado por um feitiço dos espíritos das árvores que me cegava inteiro e me fazia ver apenas a maldita mulher. O gancho prendia na paliçada e subi. Igor não me deixaria entrar sozinho e subia logo atrás. Caímos do lado de dentro da cidade. Eu não saberia descrever aquela imensidão de pedras. Me senti sufocado e imaginava que tipo de gente preferia viver naquelas prisões. Corríamos pelas sombras nos valendo da noite que escondia boa parte das vielas. Corremos ate o que parecia ser a casa do Tio da turiana. Eu já havia dado um jeito de espiar por cima da murada o caminho que o homem fazia quando retornava para casa. Mais uma vez pulamos os muros para dentro do jardim. Então a vi novamente.

- Nos vamos morrer aqui dentro e eu não vou ter o meu contrato por sua culpa, Yanko!

Eu ria. Não havia como não rir do desespero de Igor. Ele se preparara para unir-se a Kalandra, filha de um dos Haruspex do camp, durante toda a infância e adolescência. E agora estava ali, dentro das muradas de uma grande cidade, passível de ser capturado quem sabe morto ou vendido como escravo em alguma feira, porque eu havia me encantado com a visão da deusa das águas. Mas viver sem pensar nas conseqüências sempre fora o meu ponto fraco.

- Shhhhhh.. seu bosk torto.. ou vão nos encontrar.. olhe!! Ali.. saindo com a escrava. É ela.

Era a visão mágica de vê-la saindo da casa para os jardins. Sorria e eu não tinha idéia do pelo que ela sorria tanto. Estava sem o véu.. E nem que eu quisesse minhas pernas conseeguiam mover-se naquele momento.

- Pelos espíritos do céu, ela é realmente bonita.. Kalandra é mais

Jamais permita que dois adolescentes desmiolados e descuidados se metam a esconder-se numa cidade inimiga. Igor descuidava-se e tropeçava em uma das pedras que faziam a base das palmeiras do jardim.. o Pedregulho rolava fazendo um grande ruído, despertando a atenção da Turiana e da escrava.. Eu travava os dentes, queria mata-lo! Batia nele como podia tentando não fazer mais barulho;

- Quem está ai?!

Ela perguntou assustada, segurando-se na escrava.. A voz. Por pouco eu não cometi a burrice de dizer a ela quem eu era. ... respirei fundo e Igor tampou-me a boca em um ato de lucidez..

- Não ouse conversar com ela!!! – Ele dizia entre os dentes ao meu ouvido.

Ele estava certo. Eu não podia mostrar-me, nem deixar que ela desconfiasse da existência de dois tuchuks em seus jardins.

- Squiiiiiiiiiiiiiiiiissshh..

Tudo bem, sei que não foi a mais sabia das idéias, mas imitei o som de um urt. Sacodi as folhagens para que ela imaginasse se tratar de um daqueles roedores. Ela gritava de susto, agarrava-se à escrava e correram para dentro. Eu tentei ainda sair dali e ir ate ela.. era tão simples. Eu so tinha que joga-la mos ombros e correr. E provavelmetne ser apanhado antes mesmo de pular o muro de volta. Igor me segurou e pelo manto saia me puxando para os muros novamente. Pulamos.. e voltamos a correr pela viela, a tempo de sermos vistos a saltar pela casa. Raphar, primo dela, descobria que não era apenas um Urt.. mas dois, e que rondavam para roubar em seu jardim. Ainda virei para trás a tempo de ver seus olhos novamente. Ela estava assustada e sequer pode ver meu sorriso por baixo da mascara que usava. Apenas o azul cintilante dos meus olhso sobre ela. .. corremos para fora o mais rápido que pudemos. Derrubando barris, caixotes, barracas de feira, empurrando pessoas que seguiam para suas casa. Sob os gritos de raphar e os hmens de seu tio. As flechas que eles atiravam passavam tão rentes a meu ouvido que não teria trabalho algum em ter um brinco enfiado neles. Corríamos pra salvar a nossa pele.. nossa vida e assim conseguimos sair pelos portões. O manto de igor rasgava nos portões, deixando para trás parte do tecido.. e nos ganhamos o refugio das arvores quando seguimos para as paragens novamente. Entre risos de minha parte e xingamentos de Igor, estávamos a salvo e ofegantes

- Eu vou Mata-lo Yanko!!!

Igor estava irritado. O manto fora presente de sua pretendida, e estava destruído. Eu só conseguia rir. Ria de tudo. Do céu, das estrelas que cintilavam sobre nos. Do cheiro de mato.

- Ela vai ser minha Igor.. minha..

Abria os olhos despertando do sonho. O peito ofegante parecia sentir na pele ainda o vento e o ruído das flechas de anos atrás. Estavam chegando os jogos.. só precisava esperar mais um pouco.

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